sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Corridas em 76

Corridas em 76

Nos carrinhos café, dois bules, copos de plástico, açúcar. O adoçante ainda não era popular.
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Subimos juntos até o 5º andar. C. com pinta de surfista de cabelos longos também acabara de almoçar e esta sempre era a primeira tarefa do dia: servir café de sala em sala.

O elevador abriu as portas e olhares e pensamentos dos adolescentes diziam a mesma coisa: precisavam se servidos rapidamente, quentes ainda.

O impulso de ambos foi perfilar os carrinhos e imitar o som de carros acelerando.

Não haveria troféu para o primeiro colocado.

Um, dois e três e já. Uma corrida de 30 metros até o final do corredor. Com certeza algo aconteceria, respingos diversos, açúcares pelo chão, copos esvoaçando.

Antes da chegada ao final do corredor já ouvimos uma voz vindo da segunda porta à esquerda do corredor: - O que está acontecendo aqui ?

E continuou: - Aqui não é pista de corrida.
- Meninos, qual o motivo desta correria?

Não ousamos virar para saber de onde vinha a descompostura.

Cada um prosseguiu ao seu destino: Orçamento à esquerda e Estatística à direita.

Com rapidez cumprimos a missão, mas não sem antes tomar o merecido esbregue.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Lembrança de 75

Lembrança de 75

O dia começou diferente:
- Meu filho se arrume e ponha calças compridas - disse minha mãe.
Não seria um acontecimento se não tivesse de vesti-las, então dada a ordem tomei-me a cumprí-la.
- A senhora vai comigo ? Perguntei.
- Você ainda não sabe o caminho, esteve lá apenas duas vezes - Ela respondeu.
- E tem mais: precisa almoçar antes de sair de casa - Complementou.
- E a senhora vai ficar até o final ?
- Muito tarde. Faça o caminho de volta e pegue o ônibus no ponto final. Não tem como errar.
- Será que vão tirar sangue novamente ?
- Não precisa. Uma vez só basta.
- A senhora está pronta ?
- Sim. Já são 10 horas. Temos que chegar antes do meio-dia.

Depois de 20 minutos de caminhada chegamos ao ponto do ônibus. Pelo horário o 298 não tardou a chegar e com lugares para nos acomodar.

A paisagem era bem diferente: muitas curvas, muitas paradas.

Depois de 30 minutos o cobrador avisou: para quem tem ficha rosa este é o  último ponto. Nossas fichas eram verdes, mais caras, do trecho entre Madureira e Centro.

Passamos pela Leopoldina, entrada para Santo Cristo, parada para ir à antiga morada, à casa de meus padrinhos, ao bairro de nascimento, ao bairro das lembranças e narrativas de meu pai.

Agora falta pouco, não pode ser tão longe assim.

Depois de uma hora e meia dentro do ônibus, descemos em frente a igreja de Santa Luzia.

Mais 10 minutos de caminhada e tudo começaria.

Espera interminável do elevador. O ascensorista era todo sorrisos, sabia o que me esperava. Mais tarde soube seu nome: Abdil.

- Vamos ao quinto andar.

Chegamos.

- Quero falar com o Sr. Hermano.

- Primeira porta a direita do corredor.

- Aqui está ele. Pronto para o primeiro dia de trabalho, Sr. Hermano.
- Trouxeram todos os documentos.

- Sim. Até a carteira de trabalho.

- Vou apresentá-los à chefe dele. Depois serão passadas as instruções sobre o trabalho, sobre o uniforme e sobre o cartão de ponto.

- D. Maria Cleide, chegou o seu novo funcionário.

Assim foi o que aconteceu a 40 anos, no dia 2/12/1975.